Como é difícil a mudança para mim. Me acostumar com algo que, até um minuto atrás, costumava ser diferente. Hoje tive que deixar meu celular para trocar uma peça e o serviço demoraria um dia inteiro. A ideia me atormentou. Saí de casa preparada para aguardar o conserto na loja, 2h, talvez a manhã toda. Mas não o dia todo! Demorei para conseguir entregar o aparelho de vez no balcão, avisei a mãe, postei um story e o momento da separação chegou. Me senti deixando um filho (mães, relevem, não tenho filhos ainda), um braço talvez. Como é que pode? É só uma caixinha que pisca!
Decidi ir para algum café perto e trabalhar… Começou o primeiro desafio: como dirigir até lá sem GPS? “É só seguir nessa rua até a rótula e dobrar a direita, moça” foi o que eu ouvi da simpática atendente. Eu duvidei da minha capacidade algumas vezes até que tive que aceitar a ideia e acreditar em mim. Cogitei ir de Uber, obviamente, mas não teria como usar o app; também não queria gastar o pouco dinheiro que eu tinha em cash num táxi. Passei o local onde eu queria ir, simplesmente não o vi, nervosa, talvez. Uma ou duas rótulas depois me dei conta, fiz o retorno e vi um taxista parado na sinaleira, pedi ajuda. Me senti no interior, já vi minha mãe fazendo isso algumas vezes, e até dei uma risadinha interna. Ele não só me deu a dica, como disse “me segue, vou te dar um alerta quando passar na frente”. As pessoas são boas e gentis, às vezes acho que a gente esquece de reparar (ou despertar) isso…
Cheguei no local, estacionei o carro; fui descer e: cadê meu celular? Ah é, tá no conserto. Sentimento de confusão total. Entrei num café, me instalei, liguei o notebook. Pedi um pão de queijo e um café. Apresentação linda, queria tirar uma foto, cadê meu cel…? Ah, lembrei. Foto mental, é o que temos para o momento: mini-panelinha de cobre na exata medida para abraçar o pão de queijo e um machiatto com doce de leite na borda da xícara; um pedacinho de brownie na colherinha. Meu Deus, quantas outras vezes me contentei em tirar uma foto no celular e nem bem registrar na memória o que estou vendo? Momento tapa na cara.
Comi, trabalhei um pouco e o sentimento de solidão chegou. Parece que estou alheia ao mundo – e divido o ambiente com 8 pessoas no momento. Por 1 segundo acho que quis chorar, antes da consciência assumir o controle e dizer categórica “Menos né?! Em seguida tu pega ele de volta”. Coloquei a companhia da Marisa Monte no Spotify e decidi começar a escrever esse texto, para me sentir menos solitária, organizar o pensamento e também para registrar as fichas que estão caindo… São recém 10h45, o que mais me reserva esse dia de completa mudança?