São crescentes os artigos e textos sobre a nova geração de jovens e sua relação com o mercado de trabalho. Alguns escritos apostam e exaltam nossas (sim, eu pertenço a essa geração) melhores qualidades, nos descrevem como os novos salvadores das empresas, destacam nossa adaptabilidade e rapidez. Outros – e na minha opinião, os mais sinceros – revelam-se preocupados conosco, pois fomos criados por pais que tentam garantir nossa felicidade acima de tudo, poupando-nos da experiência do ‘não’ e do fracasso, e temos acesso a muitas informações, porém produzimos pouco com isso.

Nesse cenário, destaco uma nova categoria de jovens que tem chamado a minha atenção: a geração ‘nem-nem’. São aqueles jovens que nem estudam, nem trabalham, seja por desinteresse ou falta de qualificação*. Abastados ou não, se fazem isso por condições financeiras ou por preguiça, não há diferença; são pessoas que não estão cumprindo o desafio natural da vida. Fomos dotados com um intelecto que precisa ser desenvolvido, alimentado, treinado. Nem sempre entendemos o sentido de estudar as tantas teorias e fórmulas matemáticas, mas elas nos ajudam a treinar o cérebro, assim como a academia treina nossos músculos.

O fato é que o estudo complementa o trabalho e vice-versa. E isso é um fato, quer o jovem queira, quer não. Estudar, por si só, já é muito bom. Você se desafia a aprender o que outras pessoas aprenderam e tiveram a paciência de documentar para passar adiante. Você tem que ler, entender, pensar, fazer links, comparações, decorar, escrever. Se para você a experiência não é bem assim, talvez deva reaprender a estudar, pois não é um sacrifício tão doloroso.

Mas trabalhar é tão bom quanto estudar, se não melhor, depende de cada um. Você é testado, por você e pelos outros, a cumprir uma tarefa, resolver um problema; se você vai usar aquilo que aprendeu antes, ou se você vai aprender na hora, ou ainda se você vai pedir ajuda, pouco importa, o esperado é que você resolva o que foi proposto. E esse gostinho, ahhh… É indescritível. Saber que alguém ou uma equipe inteira conta com você, aposta no seu conhecimento, experiência ou intuição dá um gás e um desejo de, cada vez mais, querer fazer mais.

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Pense comigo: se você fez estágios ou trabalhou durante sua faculdade, após os 4 ou 5 anos do curso, terá uma graduação completa e 4 ou 5 anos de experiência profissional. Mesmo que você seja muito novo ainda ou não tenha tirado as melhores notas, você já não é mais só um iniciante, você já deu bons e firmes primeiros passos. Agora, por outro lado, se você entrou na faculdade e ficou enrolando, ainda reprovou em algumas disciplinas, após os 4 ou 5 anos do curso, terá o quê além do seu diploma? Quando você resolver ir procurar um trabalho, irá competir com aquele seu colega ali de cima, que trabalhou durante o curso e hoje tem 4 ou 5 anos de experiência a mais do que você. O que você acha que as empresas preferem?

Então, por que a maioria dos jovens adia isso? Se estuda é por obrigação dos pais ou para ter um título, e adia ao máximo o ingresso no mercado de trabalho. Quem faz isso, está desperdiçando um dom natural que nos foi dado, o da inteligência; pode até passar uma vida assim, mas quem sairá perdendo é a própria pessoa depois. Depois de uma vida inteira, terá produzido o quê? Do que irá se orgulhar, que transformações causou no mundo?

Espero que a minha geração acorde o quanto antes para a ‘vida real’, a vida que passa enquanto estamos navegando no nosso feed de notícias ou jogados no sofá. E o desafio é diário, as desculpas são tantas possíveis mas a escolha está em cada um, dia após dia. Aliás, amanhã já é segunda-feira, e você vai escolher o quê?

* Para maiores aprofundamentos sobre o tema, recomendo a leitura dos textos: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-geracao-nem-nem-imp-,935944http://www.jsemanal.com.br/3066-geracao-nem-nem–um-dilema-familiar-e-social.